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4 textos de Allan Kenayt

4 textos de Allan Kenayt

[I]. embora    assemelhada     a tua
face,    o nome     se distingue    na
escrita,   nas palavras,    na tônica.
[II]. é bem verdade    que     não  a

vejo em anos,        e que não       te
procuro      — embora     o instinto
quase instantâneo            de saber
por onde andas.        se és     latina

se és americana.  [III]. novamente
a tua face     surge    numa    outra
face     como um canto    escarlate

na aurora.     [IV]. novamente,     a
tua face,      quiçá — e iludido,     a
chamar… perdida…  pela minha…

[17-18 03 2022 – antissoneto]

os anos se transmutam em séculos
quando o que é ruivo é um farol
distante – e as gaivotas observam
a silenciosa espera de um amante.

manda-me sinal quando chegares
da outra América que nos reparte
enquanto a saudade invade, se
busco pensar no que fazes, em Aires.

na mente, só teu lampejo; no peito,
a louca necessidade do teu beijo;
cujo gosto, dentro do corpo, inda arde.

busca-me quando chegares
– posso sobreviver à revolta dos
mares, mas não a esta latina saudade.

[05 07 2019 – antissoneto]

janeiro me começara amoroso   quando concluí
Vinicius y iniciei Neruda y quando notei que em
mim,  os seguintes versos de Camões,   ecoava:
transforma-se o amador          na cousa amada.

estes versos    me foram     apresentados      por
Helder quando no amor martelado — y eu a ler
y eu a pensar    na mulher amada          com seu
feroz sorriso,  com seu  castanho   olhar  latino.

porque Vinicius  tinha Maria,     porque Neruda
tinha Matilde, porque os campos  imaginam  as
suas rosas,  porque o amor puro  se gritaria  no

primeiro dia de um verão   devasso.   y se   a ela
a minha alma se entrega,   como um rio  que no
mar deságua; que posso querer, senão amá-la?

[07 01 2020 – antissoneto]

noturno, peço, às estrelas do meu
signo, a ilusão da tua figura.
mas a noite as oculta, se me escuta.
e sou apenas eu no vasto breu

a sentir a invernia do que não
se deu — e de modo algum se dará.
afinal, musa, sei que não virá.
és mera esmera quimera: ficção.

inda que no meu espírito humano
floresça o mínimo canto de um dia
vê-la viva no zéfiro do campo.

porque embora tu inexista, nada
impede que, vendo a minha agonia,
pensem os deuses, na tua chegada.

[30 05 2021 – soneto]

Allan Kenayt – é poeta e leitor. a sonhar em trabalhar numa biblioteca e poder falar de livros e recomendar livros e ter tempo para ler livros e contribuir para com a educação e para com a população.