São Paulo, xx de xx de 19xx
Mãe,
Luciana quer fazer uma confraternização aqui em casa, quer chamar você e o pai, vai ser churrasco do pai dela, ele faz aniversário no dia dos pais.
Disse que chamaria você e a vó, mas ela insiste em chamar meu pai, ela não sabe que ele não fala com a gente, sei que a vó vai gostar da ideia e capaz de ligar pra ele também,
Pede pra ela não fazer isso, não adianta eu falar com ela, respondi a carta dela, mas você conhece a peça, né? Não escuta ninguém.
Se chamar não tem problema, ele não vai vir mesmo.
Minha vó conheceu meu pai por meio das cartas. Ele queria mandar cartas pras meninas do bairro, responder, recebia várias, andava com sapato de couro e atraía mulheres, era jovem e forte, fato raro naquele bairro, foi também um dos primeiros a ter automóvel. Vó achava ele um bom moço, de tanto frequentar a casa dela, minha mãe se apaixonou por ele, mandava cartas escritas por minha vó pra ele, tudo com a ciência dela.
Um bom moço do bairro, trabalhador. Mãe era deslumbrante, tinha tudo que uma moça podia ter. Ivan nunca foi de negociar, ganhou tudo no dente, como ele dizia. Foi pra cima da moça, com consentimento de Vó – ela achava que seria um namoro sério, falou com o vô, sondou ele, que disse que filha dele não namoraria, só daria mão pra homem depois de casada.
A gravidez de sua filha foi o maior desgosto da vida do vô. Passou a apostar nos cavalos com mais frequência e beber todos os dias, nunca perdoou minha vó pela traição e excomungou a filha. Até virar evangélico e velho, quando tentou fazer as pazes, dizendo que estava perto de morrer. Morreu depois dela, nunca identifiquei nenhum remorso dele. Remorso é coisa que nunca vi nessa casa.
Meu vô não ia em festas, na sua casa nunca aconteceu uma confraternização, essa casa é triste, grande e oca, muito antes dos cupins.
Esse churrasco da carta nem me lembro, passei a sabotar todas as festas. Luciana sempre foi nos eventos sem seu marido, “ele tá trabalhando”, sempre foi piada pra família. Vó também segurava essa bronca de ir em festas sozinha.
Agradecimento especial para Cax Nofre e Aline Macedo que colaboraram com esse folhetim até aqui. Muito obrigado.
Esse folhetim é um oferecimento Borboleta Azul, reavivando um formato muito popular no Brasil e no mundo. Ele tem como objetivo semear a leitura e despertar leitores, grandes nomes da literatura já escreveram folhetins como; Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar entre outros, o texto era publicado em jornais.
Quem gostou da novela, pedimos que divulguem, espalhem por aí e se tiverem interesse em apoiar o trabalho do artista, fazer uma transferência bancaria, (como uma forma de comprar o folhetim) com qualquer valor (todo valor será repassado integralmente ao artista). As pessoas que colaborarem terão seu nome nos agradecimentos de cada capítulo (opcional. Se quiser seu nome, mandar e-mail pro [email protected] com seu nome), até o final da novela como uma singela homenagem.
Nossas sugestões são de 10 reais se você leu alguns poucos capítulos, 20 se você leu uma boa parte e pretende ler tudo, e 40 se você gostou muito desse projeto e quer que ele tenha vida longa.
Dados do artista: Marcelo da Silva Antunes
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Marcelo da Silva Antunes
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Marcelo da Silva Antunes nasceu em São Paulo, no dia 13 de junho de 1992, dia de Santo Antônio e de Exu. É Autor de VIVAVACA -2017, SP: Sem Patuá (editora Patuá) - 2018, Outros Cortes (Selo Borboleta Azul) -2019, Manifesto da hora que o couro come (Selo Borboleta Azul) -2020, e do livreto Velho, Velho Testamento - 2019. Editor do selo literário Borboleta Azul e da Revista Agagê80 (Brasil/Portugal) agitador cultural e oficineiro de escrita criativa.
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