São Paulo xx, de xx de 19xx
Vó,
Ontem fui no psiquiatra, Luciana sempre me incentivou, depois da separação fiquei muito triste, pensei em fazer algumas besteiras, não amava mais Luciana. Ser casado é um motivo a menos pra se preocupar. Só namorei com ela a vida toda, não sei se quero outra mulher.
Ela deixou eu ficar com o apartamento, estou até arrumando as coisas do meu jeito, mas cada parede me lembra ela, os objetos são dela, a televisão a gente comprou junto. Não vou aguentar ficar muito tempo aqui, vender vai ser difícil. Se conseguisse alugar aqui, poderia pagar outro quarto pra morar, problema é que é metade dela. Morar com o vô está fora de cogitação, te agradeço pelo convite.
Queria te pedir um dinheiro emprestado pra pagar umas contas,
Ainda não estou com cabeça pra ir nessa casa, não consigo encarar essas lembranças,
Beijo Vó.
Essa não mandei por pensar na saúde dela. Com 77 anos descobriu um aneurisma, não poderia ficar estressada. O vô me falou, não coloquei no correio. Essa fase fiquei tão duro que passei a trabalhar com o carro com freio ruim.
O psiquiatra fez comentários sobre minha relação com mulheres, falei de Sílvia e de Luciana. Ele ficava perguntando sobre minha mãe. Recordei coisas da infância, insignificantes, algumas inventei. Ele não percebeu.
Contei uma memória com que sonhei algumas vezes. Minha mãe batendo boca com a mãe de um coleguinha e com a professora, ela só ficava calada nas reuniões, mas dessa vez ficou irada, um amiguinho tinha me colocado dentro do lixo e trancado, fui retirado de lá em choque, tremendo, sem chorar, criei fobia de escuro, ratos e insetos. A professora vivia pedindo pra falar com o pai da criança – “o pai da criança”, isso deve ter irritado minha mãe.
Nesse dia foi ameaçada, disseram que iriam denunciar minha mãe por não dar atenção pro filho, que eu deveria ter problemas psiquiátricos ou alguma deficiência, péssimo aluno, introspectivo e sem reação nenhuma. Esqueceram que eu era a vítima daquela situação, fui trancado no lixo da escola. Ela ficou uma arara, partiu pra cima, hoje entendo que foi uma reação destemperada, já premeditando seu descontrole emocional e falta de equilíbrio, mas fiquei muito feliz de ver alguém brigando por mim. Na volta ela me comprou um pastel e perguntou se eu queria mudar de escola.
Agradecimento especial para Cax Nofre e Aline Macedo que colaboraram com esse folhetim até aqui. Muito obrigado.
Esse folhetim é um oferecimento Borboleta Azul, reavivando um formato muito popular no Brasil e no mundo. Ele tem como objetivo semear a leitura e despertar leitores, grandes nomes da literatura já escreveram folhetins como; Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar entre outros, o texto era publicado em jornais.
Quem gostou da novela, pedimos que divulguem, espalhem por aí e se tiverem interesse em apoiar o trabalho do artista, fazer uma transferência bancaria, (como uma forma de comprar o folhetim) com qualquer valor (todo valor será repassado integralmente ao artista). As pessoas que colaborarem terão seu nome nos agradecimentos de cada capítulo (opcional. Se quiser seu nome, mandar e-mail pro [email protected] com seu nome), até o final da novela como uma singela homenagem.
Nossas sugestões são de 10 reais se você leu alguns poucos capítulos, 20 se você leu uma boa parte e pretende ler tudo, e 40 se você gostou muito desse projeto e quer que ele tenha vida longa.
Dados do artista: Marcelo da Silva Antunes
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Marcelo da Silva Antunes
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Marcelo da Silva Antunes nasceu em São Paulo, no dia 13 de junho de 1992, dia de Santo Antônio e de Exu. É Autor de VIVAVACA -2017, SP: Sem Patuá (editora Patuá) - 2018, Outros Cortes (Selo Borboleta Azul) -2019, Manifesto da hora que o couro come (Selo Borboleta Azul) -2020, e do livreto Velho, Velho Testamento - 2019. Editor do selo literário Borboleta Azul e da Revista Agagê80 (Brasil/Portugal) agitador cultural e oficineiro de escrita criativa.
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