São Paulo, xx de xx de 19xx
Pai,
Estou firme de taxista, a Vó falou que você ligou ontem, estava trabalhando. Logo vou comprar um telefone e por uma linha em casa.
Ser taxista é quase igual a dirigir caminhão, é menor, mas levo coisas também, até mudanças já fiz, tem gente que leva caixas e caixas de livros e porcelana no meu táxi.
As coisas vão bem, espero que as suas também. Algum dia vou passar na sua casa, se precisar de táxi pode ligar pra Vó e marcar. Fico em alguns pontos de São Paulo, ainda não tenho lugar fixo, dinheiro está entrando.
Até a próxima.
Nessa ainda chamava seu Ivan de pai, lendo as cartas voltei a chamar. Mas ele nunca foi pai. Nunca eu mandaria essa carta, alguma coisa me impedia. Só não sei por que guardei. Não sei como algumas vieram parar nessa caixa, outras jurei que tinha jogado fora, que rasguei – algumas rasguei mesmo.
Meu pai, o Ivan, nunca ligou. Minha vó inventava, na infância escrevia até cartas assinadas por ele, tentou fazer dele um pai melhor, não conseguiu. Descobri e nunca disse pra Vó. Deixei ela continuar com essa história, igual Papai Noel.
Nessa época o táxi era bom, todo emprego é bom nos primeiros meses. Tinha deixado de ser funcionário de mercado, fazer bicos em shoppings e lojas de calçados no final do ano. Motorista sempre foi meu sonho, ou sonho do meu pai, sei lá, peguei isso pra mim desde menino.
Continuo no táxi pra pagar umas contas, vontade não tenho.
Juventude é uma fase terrível, uma vez vi em uma revista que o homem muda de 7 em 7 anos, besteira. Fui deixando de ser jovem, ficando mais velho, matando as esperanças. Mãe morreu, avós morreram, fiquei só. Tenho essa casa e essas cartas, alguma mobília e um táxi.
A fase da ilusão poderia ter permanecido, fui cirúrgico, acabando com tudo. O jovem assiste os comercias da Coca-Cola e pensa que pode mudar o mundo, essa água suja diz isso desde os anos 80, evito tomar essa cloaca, a não ser quando quero vomitar ou desentupir a privada.
Essa caixa de madeira não foi penetrada nem por cupins, Luciana diria que está energizada, ou qualquer coisa de carma, acho que é só falta de apetite dos cupins dessa casa, que a comem há mais de 30 anos, não os culpo, também devoro essa casa antes mesmo do primeiro cupim.
Agradecimento especial para Cax Nofre e Aline Macedo que colaboraram com esse folhetim até aqui. Muito obrigado.
Esse folhetim é um oferecimento Borboleta Azul, reavivando um formato muito popular no Brasil e no mundo. Ele tem como objetivo semear a leitura e despertar leitores, grandes nomes da literatura já escreveram folhetins como; Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar entre outros, o texto era publicado em jornais.
Quem gostou da novela, pedimos que divulguem, espalhem por aí e se tiverem interesse em apoiar o trabalho do artista, fazer uma transferência bancaria, (como uma forma de comprar o folhetim) com qualquer valor (todo valor será repassado integralmente ao artista). As pessoas que colaborarem terão seu nome nos agradecimentos de cada capítulo (opcional. Se quiser seu nome, mandar e-mail pro [email protected] com seu nome), até o final da novela como uma singela homenagem.
Nossas sugestões são de 10 reais se você leu alguns poucos capítulos, 20 se você leu uma boa parte e pretende ler tudo, e 40 se você gostou muito desse projeto e quer que ele tenha vida longa.
Dados do artista: Marcelo da Silva Antunes
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Marcelo da Silva Antunes
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Marcelo da Silva Antunes nasceu em São Paulo, no dia 13 de junho de 1992, dia de Santo Antônio e de Exu. É Autor de VIVAVACA -2017, SP: Sem Patuá (editora Patuá) - 2018, Outros Cortes (Selo Borboleta Azul) -2019, Manifesto da hora que o couro come (Selo Borboleta Azul) -2020, e do livreto Velho, Velho Testamento - 2019. Editor do selo literário Borboleta Azul e da Revista Agagê80 (Brasil/Portugal) agitador cultural e oficineiro de escrita criativa.
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