São Paulo xx, de xx de 19xx
Lu,
Eu sei que estamos apaixonados. Mas jantar pra família é coisa de novela, aliás, eles já sabem de tudo. A gente namora há tanto tempo, pra que informar pra eles que vamos casar, quer que eu peça sua mão pro teu pai?
Não sei pra que serve um noivado, é pra avisar o casamento?
Precisa mesmo disso?
Luciana, tem que confiar, agora seremos, eu e você, pro resto da vida, até que a morte nos separe, não é isso que diz o padre?
Somos jovens, vamos ter finalmente a liberdade.
Minha mãe, não aprova esse casamento, a sua pelo jeito, também não, ela me odeia. Seu pai parece não se importar com nada que acontece na sua casa.
Lu, eu vou casar com você na igreja e tudo, já decidimos, tá certo com o padre. Jantar em família não é pra mim.
Beijos.
Os pais de Luciana sempre me julgaram um inútil. Criaram a princesa pra ser mulher rica, ter filhos, um futuro brilhante. Investiram em escolas, cursos e até faculdade, mesmo depois de casada. Família especialista em cerimônias e fingimentos, festas recheadas de beijos e abraços falsos, cada dança uma eternidade – de vômito preso. Família cheia de policial, bicheiros, traficantes de armas, todos bons moços e moralistas nas comemorações.
A mãe era a pior, criada pra ser o que ela não conseguiu, era ridícula aquela relação mãe e filha. O processo da mulher é diferente, o homem é criado pra ser solto, duro, por isso as pancadas e falta de afeto, as mulheres são criadas pra apanhar e dar amor, serem burras ao lado de um pai escroto.
A mãe dela atormentava, queria saber onde a filha estava, ligava todo dia, perguntava se tinha cagado, se sabia do pai e quando iria aparecer. Irritante.
Sempre fui invisível por vontade própria. Naquela casa era mais um lugar. Por isso reparava na podridão daquela instituição que chamavam de família. Lá meu nome não era citado, não dirigiam a palavra a mim. Perguntavam pra ela se eu queria água. “Luciana, seu namorado quer água?”, “Luciana, ele vai dormir aqui hoje?”.
Bom dia, até pro cachorro, menos pro imprestável genro.
Neurótica por limpeza, não trabalhava fora, cuidava da casa, sempre faxinando o dia todo, esperava seu marido chegar como quem espera um deus – ele era um deus naquela casa, chegava bem tarde pelo que dizia Luciana, nunca o encontrei na casa fora das festas.
Durante sua faxina exigia silêncio, na casa nenhum barulho era permitido. O cachorro era parecido com ela, silencioso e chato, comia sua ração e cagava no meio da sala. A casa cheirava a produto de limpeza. Odeio esses cheiros até hoje.
Nunca visitou nossa casa. E eu sempre inventei desculpas pra não sentir aquele cheiro de limpeza, nunca mais.
Luciana casou pra fugir da mãe. É impossível fugir da família. Nasce ali e pronto. É feito tatuagem.
Agradecimento especial para Cax Nofre e Aline Macedo que colaboraram com esse folhetim até aqui. Muito obrigado.
Esse folhetim é um oferecimento Borboleta Azul, reavivando um formato muito popular no Brasil e no mundo. Ele tem como objetivo semear a leitura e despertar leitores, grandes nomes da literatura já escreveram folhetins como; Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar entre outros, o texto era publicado em jornais.
Quem gostou da novela, pedimos que divulguem, espalhem por aí e se tiverem interesse em apoiar o trabalho do artista, fazer uma transferência bancaria, (como uma forma de comprar o folhetim) com qualquer valor (todo valor será repassado integralmente ao artista). As pessoas que colaborarem terão seu nome nos agradecimentos de cada capítulo (opcional. Se quiser seu nome, mandar e-mail pro [email protected] com seu nome), até o final da novela como uma singela homenagem.
Nossas sugestões são de 10 reais se você leu alguns poucos capítulos, 20 se você leu uma boa parte e pretende ler tudo, e 40 se você gostou muito desse projeto e quer que ele tenha vida longa.
Dados do artista: Marcelo da Silva Antunes
Pix Itaú: 418.723.338-50
Marcelo da Silva Antunes
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Marcelo da Silva Antunes nasceu em São Paulo, no dia 13 de junho de 1992, dia de Santo Antônio e de Exu. É Autor de VIVAVACA -2017, SP: Sem Patuá (editora Patuá) - 2018, Outros Cortes (Selo Borboleta Azul) -2019, Manifesto da hora que o couro come (Selo Borboleta Azul) -2020, e do livreto Velho, Velho Testamento - 2019. Editor do selo literário Borboleta Azul e da Revista Agagê80 (Brasil/Portugal) agitador cultural e oficineiro de escrita criativa.
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