São Paulo xx de xx de 19xx
Luciana,
Como é que anda?
Nunca mais soube de você, estou tentando melhorar, passei no médico.
Depois que minha mãe morreu, penso mais sobre minha vida. Acho que errei muito, ele disse que preciso tratar umas coisas não resolvidas. Fui encaminhado pra terapia. Você sempre falou isso, foi a principal incentivadora dessas coisas. A doença deixa a gente cego.
Estou arrependido de muitas coisas. Perder sua confiança foi dolorido. Quero te pedir desculpas.
E dizer que torço pra sua felicidade,
Eu voltei a trabalhar no táxi essa semana.
Essa é a primeira carta que escrevo depois de muito tempo, pensei que não escreveria mais depois da morte de minha mãe.
Lu, você foi importante na minha vida.
Porra, carta amassada, essa não rasguei por quê? Será que imaginava resgatar toda essa merda um dia?
Psicólogo, ou psiquiatra não me lembro. Sempre confundi isso. Raça de enganadores, estão pra medicina como os padres e pastores estão pra igreja.
Escrevi essa merda no consultório. Falei sobre mãe e chorei que nem menino. Falei da preocupação com o William – não queria ver ele na minha situação, menino bom. Falei da minha separação. Foi caro. Foi bom. Na hora aliviou, na volta pra casa senti muita dor.
Fase emotiva. Essa passou rápido. Tudo groselha, ficava contando minha vida e mentia muito. Olha a carta que era capaz de escrever. Como se tivesse algum motivo pra me arrepender do casamento de bosta que levei. A morte da mãe deve ter sensibilizado todos, comigo não foi diferente, não tenho religião e não acredito em vida após a morte. Não mais.
Agora minhas lágrimas escorrem nesse tapete velho, essa caixa maldita me levou até dias confusos. Vou queimar o resto das cartas, não me interessam mais.
Quando mãe morreu parei de procurar meu pai, parei de escrever e fiquei mais ligado na Vó. Ela me acalmou. William nunca mais encontrei, só no enterro de mãe. Nosso laço acabou ali.
A vida é irônica, ou seria engraçada? Não sou bom com palavras. William indo pelo mesmo destino que eu, seguindo os passos desse irmão fracassado, sem pai, sem mãe, sozinho. Ele, pelo menos, não gosta de cartas.
Depois da morte de Vó, voltei pra casa dela. Voltei pra mim mesmo. Agora não tenho pra onde correr, estou me olhando no espelho, estou cada dia mais magro.
Agradecimento especial para Cax Nofre e Aline Macedo que colaboraram com esse folhetim até aqui. Muito obrigado.
Esse folhetim é um oferecimento Borboleta Azul, reavivando um formato muito popular no Brasil e no mundo. Ele tem como objetivo semear a leitura e despertar leitores, grandes nomes da literatura já escreveram folhetins como; Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar entre outros, o texto era publicado em jornais.
Quem gostou da novela, pedimos que divulguem, espalhem por aí e se tiverem interesse em apoiar o trabalho do artista, fazer uma transferência bancaria, (como uma forma de comprar o folhetim) com qualquer valor (todo valor será repassado integralmente ao artista). As pessoas que colaborarem terão seu nome nos agradecimentos de cada capítulo (opcional. Se quiser seu nome, mandar e-mail pro [email protected] com seu nome), até o final da novela como uma singela homenagem.
Nossas sugestões são de 10 reais se você leu alguns poucos capítulos, 20 se você leu uma boa parte e pretende ler tudo, e 40 se você gostou muito desse projeto e quer que ele tenha vida longa.
Dados do artista: Marcelo da Silva Antunes
Pix Itaú: 418.723.338-50
Marcelo da Silva Antunes
cpf: 418.723.338-50
Itaú
Ag: 8422
cc: 25233 1
Marcelo da Silva Antunes nasceu em São Paulo, no dia 13 de junho de 1992, dia de Santo Antônio e de Exu. É Autor de VIVAVACA -2017, SP: Sem Patuá (editora Patuá) - 2018, Outros Cortes (Selo Borboleta Azul) -2019, Manifesto da hora que o couro come (Selo Borboleta Azul) -2020, e do livreto Velho, Velho Testamento - 2019. Editor do selo literário Borboleta Azul e da Revista Agagê80 (Brasil/Portugal) agitador cultural e oficineiro de escrita criativa.
Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com os nossos Termos de Uso e Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você declara estar ciente dessas condições.