Aqui a gente faz assim, ói. Num é força, é jeito. Se for conversar com eles a história é a merma. No começo sofre, depois acha a batida. A mão faz calo, estoura o calo e fica bom. Agora num se engane não, uma pedra grande dessa demora muito pra cozinhar, tem que ir quebrano. Depois vai montano lá dentro do forno, taca lenha, fogo, e vai, quinze dias cozendo. Perigoso é o besourin, é melhor se afastar um pouco. Isso é serviço pra quem não estudou, moço, todo mundo aqui, ói, num sabe nem assinar o nome. Meu menino tá indo no mermo caminho, vez em quando eu trago ele pra ir acostumando. Boto ele pra separar umas pedra, dar recado, carregar marreta. Pra onde eu vou ele vai. Tem que seguir o exemplo, a comida de casa quem bota sou eu. A gente só num quebra pedra na chuva, ela tando fofa a marreta não faz efeito. Esse dedo roxo aqui, ói, foi uma, ela veio rolando e só parou no meu pé. Agora
vou li dizer outra coisa, dignidade a gente tem. Respeito qualquer um aqui. Só não venha humilhar. Contar vantagi. Se amostrar com o que não tem. É o mermo salário pra todo mundo. Aqui é melhor que arrancar toco, fazer carvoeira, cortar lenha. Chega no fim da quinzena eu tenho meu dinherin, moço. Patrão paga em dia, a gente é que não sabe usar o dinheiro, deixa quase tudo no bar.
Viro a noite da sexta lá, no outro dia é ressaca, chego em casa a mulher não quer saber de mim. Ói, depois que essas pedra cozinha fica branquinha igual farinha.
Tem gente que chama de calcário, a gente chama de cal. A turma compra pra fazer tinta, jogar em plantação, misturar com açúcar. Tem que aproveitar a safra, isso aqui só dura cinco mês, moço, depois tem que plantar roçado e se der sorte ter milho e feijão pra comer. Eu nem sinto mais o peso da marreta, com o tempo acostuma, parece que eu tô levantando um martelo. Meu sonho mesmo é dirigi caminhão de pedra ou ser dono de pedreira. Fico olhando o motorista pra vê se aprendo, já vi que é difícil, passar marcha, controlar embreaji, subir ladeira devagar, caminhão pesado tem que ter braço.
Quem dirigi é o filho do patrão, vai continuar o negócio do pai. Se eu pudesse voltar no tempo, queria ser um deles, se eu tivesse esse poder, né? Mas só quem tem é Deus. Por isso vou aceitando meu destino. Amanhã vou mudar de turno. Vem eu e outro doido que mora ali na ladeira. Se quiser vim, pode vim.
Helimar nasceu em Vertentes-PE, mas viveu em Vertente do Lério, Santa Maria do Cambucá, Santa Cruz do Capibaribe e Recife. Formado em Publicidade e Propaganda e Rádio e TV. Publicou Fulguras, Coração na sombra e Tubarão, ambos de poemas. Já publicou nas revistas: Aboio, Uso, RevistaRia e Agagê 80 e nas coletâneas: Rolezinho (2022), Off Flip (2022). Atualmente mora em São Paulo. Participou como aluno, da oficina literária com Marcelino Freire em 2021. Tufo, Brita e Dolomita é sua estreia na prosa.
Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com os nossos Termos de Uso e Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você declara estar ciente dessas condições.