A vida segue seu rumo natural. Trabalho, casa, trabalho, casa. Virei homem respeitado. Taxista. Prefiro viagens curtas. Com passageiros calados. Só compro cervejas e cigarros. Almoço no boteco da esquina quase sempre, aos sábados é feijoada na rua de trás, no antigo boteco da dona Terezinha. O novo proprietário manteve alguns aspectos do bar, por falta de grana, imagino. O balcão largo, o azulejo português fodido, o armário de madeira embaixo da pia e o velho baleiro, vazio, do lado dos cigarros soltos.
A mesa onde meu pai jogava sinuca está lá, serve de apoio pras caixas de cerveja no fundo do bar. Cansei de esperar ele jogar sua última partida, ainda espero quando almoço lá, espero a mãe vindo chamar o seu homem, tudo tão igual, tão sem jeito.
Luciana ficou com raiva quando soube da minha decisão de não ter filhos. Por filho no mundo pra quê? Pra se foderem? Só se eu fosse maluco. As pessoas acreditam em mudar o mundo, melhorar o planeta. Eu não vou colocar criança pra chorar, ter responsabilidades. Filho não pede pra nascer.
Mulher sente mais essa coisa de família, pesa mais, deseja ter filhos e cuidar da casa, instinto, sei lá, pro homem é aceitável não ter. Seria fácil e confortável, era só tratar de arrumar um emprego, ficar muitas horas fora, não seria tão filho da puta de desejar esse mundo pra uma criança. Evito crianças.
Luciana tinha sonhos, vivia cheia de planos, queria viajar. Porra de viajar Luciana, gosto de ficar aqui nos feriados, aproveitar quando a cidade está vazia. São Paulo é um inferno, do horário comercial até às madrugadas. Na época eu trabalhava na porra de um mercado judeu de merda. Lugar nojento. O Judeu era foda, filho da puta, porco. O desgraçado tinha três filhos, o mais velho era ruim igual ele, tomara que tenham se matado. Sumiram da porra do bairro depois que foram roubados duas vezes na mesma semana.
Última vez que soube, Luciana estava indo pra Miami. Lugar de merda, a cara dela.
Marcelo da Silva Antunes nasceu em São Paulo, no dia 13 de junho de 1992, dia de Santo Antônio e de Exu. É Autor de VIVAVACA -2017, SP: Sem Patuá (editora Patuá) - 2018, Outros Cortes (Selo Borboleta Azul) -2019, Manifesto da hora que o couro come (Selo Borboleta Azul) -2020, e do livreto Velho, Velho Testamento - 2019. Editor do selo literário Borboleta Azul e da Revista Agagê80 (Brasil/Portugal) agitador cultural e oficineiro de escrita criativa.
Esse folhetim é um oferecimento Borboleta Azul, reavivando um formato muito popular no Brasil e no mundo. Ele tem como objetivo semear a leitura e despertar leitores, grandes nomes da literatura já escreveram folhetins como; Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar entre outros, o texto era publicado em jornais.
Quem gostou da novela, pedimos que divulguem, espalhem por aí e se tiverem interesse em apoiar o trabalho do artista, fazer uma transferência bancaria, (como uma forma de comprar o folhetim) com qualquer valor (todo valor será repassado integralmente ao artista). As pessoas que colaborarem terão seu nome nos agradecimentos de cada capítulo (opcional. Se quiser seu nome, mandar e-mail pro [email protected] com seu nome), até o final da novela como uma singela homenagem.
Nossas sugestões são de 10 reais se você leu alguns poucos capítulos, 20 se você leu uma boa parte e pretende ler tudo, e 40 se você gostou muito desse projeto e quer que ele tenha vida longa.
Dados do artista: Marcelo da Silva Antunes
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