Ser mãe é uma travessia na qual ficamos a maior parte do tempo à deriva.
Nosso lar é o meio do rio.É rio mas também é deserto. Estamos sempre entre dois mundos…o que somos e o que teríamos sido.
O puerpério é construir uma balsa com o que é possível para iniciar a travessia. A mulher “não mãe” ainda não morreu completamente e a “mãe” ainda não nasceu. Eu ainda não sabia o que era ser mãe…não que ser mãe tenha uma definição mas eu sequer sabia que ser mãe era essa areia movediça.
O pensamento que mais me assombrava é que não tinha mais volta. Nunca mais seria a pessoa que eu era antes de ser mãe. Pela primeira vez eu senti a textura e o gosto do “nunca”.
Dar a luz é uma morte. E a vivência do luto. O que está por vir é um ser disforme, irreconhecível, um Frankstein das suas partes em outra pessoa e outra da pessoa que viveu em você. Transborda o leite, o sangue ,o pranto …transborda não porque está cheio mas porque está vazio. Eu me esvazio de sonhos, planos, de mim, para parir uma nova eu. Estou conhecendo meu filho mas preciso me conhecer também.
Passam os primeiros meses, anos, e aquela que morreu ainda surge como uma fantasmagoria do que não fui. O rio não termina, não deságua .Aprendo a fazer das águas minha conselheira. Me torno água…a mulher-mãe sabe correr entre as pedras.
Professora de escola pública, mãe e poeta. Não necessariamente nessa ordem. Não necessariamente sem contradições.38 anos aprendendo a ocupar o próprio corpo .
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