Os montes se fizeram escuros com a sua ida,
Estella nunca fora uma mulher qualquer, era líder, bem distinta, rainha, mulher.
Nunca houve um homem que tivesse tamanha dignidade para honrar seu coração mediante o amor,
Exceto o líder do mais conhecido Cartel de Sinaloa.
Mas, a treva que Estella deixou com sua partida devastou, não somente Cartéis, mas, também, o seu coração.
Estella vagou e renasceu – sua pele clara, agora era amarela; seus olhos azuis, agora eram castanhos como a terra negra; e seus cabelos, uma vez ruivos, agora eram castanhos,
Mas, Estella nunca se desligou de seu amor e de si mesma.
A mulher, hoje, renascida, reencarnada, era líder, não de Cartéis, mas de uma sala de aula,
A mulher com a alma de Estella era professora, casada e sem filhos, naquele momento.
Quando amigos se reúnem, a nova mulher se lança ao mundo para nunca ser descoberta, embora, não soubesse do que guardava em sua própria alma.
Mas Estella sabia, Estella sempre soubera de seu lugar, de seu trato com os demais, de sua lealdade e de sua fidelidade aos braços de outrem,
Pois, agora, Estella era interiorana, sua vida se encontrava numa alma que não era de seu corpo, mas sim, de outra mulher que herdou os mesmos valores que um dia Estella teve.
Na sua viagem, a Máfia se fizera presente, um casal em união de outro que, juntos, se transformara numa família.
A beleza da mulher era de tamanha semelhança com a de Estella, mesmo que cores, cabelos e olhos fossem distintos, na verdade, realçavam ainda mais a sua beleza, fazendo de seu marido o homem mais sortudo por tê-la, não somente em beleza, mas em tamanha perseverança e inteligência.
Mas os traços de Estella gritavam e era como estar diante da mesma perante todos,
Sua forma de manusear o talher, de olhar para os enormes quadros daquela mansão, de se dirigir as pessoas e, principalmente, de mostrar e demonstrar amor ao seu marido.
Quando o líder se aproxima e a vê, não há dúvidas, era Estella, seu grande amor,
Mas Estella não era a mesma persona, era casada, era brasileira, e tinha outra vida.
Em meio a festividade, ouve-se tiros, confrontos entre Cartéis vizinhos,
Alguém atira no homem que se coloca diante da mulher,
Não era Estella, mas a mulher agiu como ela – como uma líder ao mostrar humanidade e benevolência,
E todo o Cartel se colocou de frente para a mulher, a fim de conhecê-la e cobiçá-la, pois, uma mulher como ela era o sonho de qualquer homem de poder, principalmente, ao se assumir liderança diante de fatalidades.
O seu marido, de fato, era o mais digno entre todos aqueles homens, pois o amor daquela mulher era somente dele e, assim, ela se bastava.
Contudo, fora pedido pelo líder ao marido, dois dias com Estella, ou melhor, com aquela mulher que levava a alma de Estella,
Relutante, porém, confiante do amor da dama, seu marido consentiu,
E, assim, o líder a levou com ele para a casa que fora de ambos, depois de anos sem voltar àquele lugar.
Chegando na mansão, sem saber o porquê, a mulher, de imediato, reconheceu o local, sentia o cheiro das rosas que desabrochavam no jardim, sendo as vermelhas a sua preferida,
E, por um momento, perguntou ao líder se ela mesma poderia apresentar-lhe os cômodos da casa, e ele a permitiu.
A cada cômodo, ele sentia que Estella era real, não importava em qual corpo se mantivera, sabia que era ela,
E Estella vagou pela casa, cozinhou seus pratos favoritos, misturando molhos, aromas e cores, mantendo-se Estella, de forma absoluta em frente ao líder, que sempre fora seu, mas nunca daquela mulher, pois ela era muito bem-casada.
Todavia, no último dia, o líder colocou as cartas na mesa, levando aquela mulher a piscina da casa – segundo ele, o maior medo de Estella e o seu pior pesadelo.
Quando chegou naquele local, direcionou seus braços para a mulher, oferecendo-lhe a mão, para que ela, junto a ele, descesse e emergisse nas águas postas,
A mulher, ao olhar para aquelas águas, recusou a cortesia do líder, pois fora descoberto o seu trauma,
Não era um simples trauma.
Desde criança, tinha consigo esse medo, uma vez que tinha se afogado três vezes num passeio escolar,
Só que, ali, de frente para aquela piscina, não se lembrara apenas de seus afogamentos, mas viu Estella, a mulher que habitava sua alma, morta, ensanguentada e de bruços boiando naquele lugar.
Era como desencarnar.
A história de Estella confirmou-se no pavor dentro dos olhos daquela mulher ao descobrir que, na outra vida, fora Estella e fora morta no confronto de Cartéis.
De volta a mansão e aos braços de seu marido, Estella havia partido e aquela mulher também, sabendo que, hoje, não pertencera mais aquele homem de Cartéis, mas sim, ao seu marido, na (re)construção de sua nova vida.
Karolaynne Nunes é poetisa e discente do curso de Letras Língua Portuguesa e Literaturas da Universidade Federal de Mato Grosso. Sua influência no mundo literário se deu nos livros de filosofia, durante o ensino fundamental; e no ensino médio, teve um contato mais íntimo com outras obras da literatura brasileira e estrangeira, em que se descobriu um ser intenso e apaixonado por todas as literaturas, em especial, a literatura mato-grossense, na qual passou a escrever diversos poemas, contos e textos, com o objetivo futuro de lecionar e lançar um livro, assim, espalhando a literatura pelo mundo.
Primeira colocada na categoria “Conto” do I Prêmio Rodivaldo Ribeiro de Literatura, concurso promovido, no ano de 2021, pela Ruído Manifesto.
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