São Paulo xx de xx de 19XX
Luciana,
Quero confessar, não sei se gosto de você. Tenho sentido coisas estranhas, troquei de trabalho e minha vida mudou. Talvez você não mereça um homem como eu. Sou tão fraco.
Tenho idade pra ser um gerente e ainda sou balconista de uma farmácia. Sei que você tem planos de entrar pra faculdade, fazer direito, eu não penso em fazer isso. Odeio ler e escrever e odeio matemática. Você sabe, meu sonho era ser motorista de ônibus.
Tenho bebido cada vez mais, sei que não gosta, acredita nessas coisas de religião.
Essa carta só vai chegar quando eu morrer. Espero não demorar.
Ainda sou o mesmo fraco, não me culpo. Nem pra suicídio tenho coragem. Vai ver já estou morto faz tempo e morto não morre. Só pude ser isso, me entreguei ao fracasso cedo, meu caminho era esse. Tenho nome bíblico, isso já atrapalha, Jonas é um nome de fracassado, é o cara que fica dentro da baleia, minha mãe adorava essa história, meu pai nunca soube disso, acho, por ele talvez tivesse nome de algum amigo ou jogador da seleção. Odeio futebol, mas seria melhor do que nome de profeta. Poderia me chamar Edson, Diego ou Leandro.
Sempre volto pra essa casa, essa é minha história, minha baleia. Tanta louça guardada na cozinha, tantos cadernos sobre a escrivaninha do quarto e essas malditas cartas, é minha caixa preta, investigo um avião que explodiu sem decolar.
Sou a parte da mobília que faltava para esse mausoléu. Meu lugar é aqui. Onde nem os ratos dão as caras.
Dona Deolinda depositou em mim toda a sua vontade de ter um filho menino. Nunca me faltaram carrinhos e bolas. Nunca gostei de futebol. Aqui, além das cartas, têm meus álbuns de fotografia da infância, dentes de leite e coisas de mãe. O rastro do pequeno eu. Fui parte importante de alguém, não um carro novo pra exibir pros amigos. De minha vó lembro com carinho.
Marcelo da Silva Antunes nasceu em São Paulo, no dia 13 de junho de 1992, dia de Santo Antônio e de Exu. É Autor de VIVAVACA -2017, SP: Sem Patuá (editora Patuá) - 2018, Outros Cortes (Selo Borboleta Azul) -2019, Manifesto da hora que o couro come (Selo Borboleta Azul) -2020, e do livreto Velho, Velho Testamento - 2019. Editor do selo literário Borboleta Azul e da Revista Agagê80 (Brasil/Portugal) agitador cultural e oficineiro de escrita criativa.
Esse folhetim é um oferecimento Borboleta Azul, reavivando um formato muito popular no Brasil e no mundo. Ele tem como objetivo semear a leitura e despertar leitores, grandes nomes da literatura já escreveram folhetins como; Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar entre outros, o texto era publicado em jornais.
Quem gostou da novela, pedimos que divulguem, espalhem por aí e se tiverem interesse em apoiar o trabalho do artista, fazer uma transferência bancaria, (como uma forma de comprar o folhetim) com qualquer valor (todo valor será repassado integralmente ao artista). As pessoas que colaborarem terão seu nome nos agradecimentos de cada capítulo (opcional. Se quiser seu nome, mandar e-mail pro [email protected] com seu nome), até o final da novela como uma singela homenagem.
Nossas sugestões são de 10 reais se você leu alguns poucos capítulos, 20 se você leu uma boa parte e pretende ler tudo, e 40 se você gostou muito desse projeto e quer que ele tenha vida longa.
Dados do artista: Marcelo da Silva Antunes
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Marcelo da Silva Antunes
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