São Paulo, xx de xx de 19xx
Mãe,
Tentei falar com o pai.
Ele não responde cartas, não mando mais, liguei umas vezes pra ele, nunca está em casa, nem sei mais onde ele mora, sei que teve outros filhos, no bar de dona Terezinha o pessoal comenta, fui outro dia lá com Luciana, tomar um suco. Ela ficou feliz de me ver namorando firme e sempre fala que estou a cara do pai.
Eles gostam dele porque não é pai deles.
Mãe, a Vó tá com saudades de você, sei que ela te escreve cartas. Agora que moro aqui parei de receber cartas dela, sinto falta. Os bilhetes na geladeira não ficam muito tempo, o vô rasga e joga no lixo. Velho insuportável esse seu pai. Está cada vez mais agressivo, entro em casa e vou direto pro quarto. Ele grita com a Vó e eu tenho vontade de gritar. Ela chora.
Escreva pra mim.
Essa carta não mandaria nunca.
Chorei mesmo depois de casado por causa do pai dela.
Qual a função de um pai? Minha escolha por não ter filho passou pelos exemplos que tive, o pai de Luciana era tão ausente que nem me lembrei dele na lista de piores pais. Meu pai estará fazendo o quê hoje? Jogando sua sinuca e cantando mulheres no bar? Será que teve mais filhos? Largou por aí? Cheguei a pensar sobre a possiblidade de pegar algum irmão meu como passageiro, sempre procurei traços físicos nos passageiros, nunca notei. A vida não seria tão caprichosa comigo.
Luciana teve filhos, que terão um avô ruim, o pai não conheço.
Eu persegui o meu por muito tempo, depois que desisti a vida tomou seu rumo. Suporto a vida. Outro dia, peguei uma passageira voltando do hospital, sozinha com o filho no colo. Ligou pra seu marido no viva voz e só ouvimos chamar. Pensei em oferecer a corrida de graça, mas não sou pai, não carrego esse peso.
Ter pai ou não, dá na mesma. Estou aqui. Construí uma família, melhor que a dele, fui homem da casa e nunca faltou nada, teria sido um pai ruim, mas dentro da média, levaria o menino pra jogar bola e escolher algum presente no seu aniversário.
Será que meu pai teve pai? Ou isso é de família? Pelo menos em fotografias estão sempre sorrindo.
Agradecimento especial para Cax Nofre e Aline Macedo que colaboraram com esse folhetim até aqui. Muito obrigado.
Esse folhetim é um oferecimento Borboleta Azul, reavivando um formato muito popular no Brasil e no mundo. Ele tem como objetivo semear a leitura e despertar leitores, grandes nomes da literatura já escreveram folhetins como; Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar entre outros, o texto era publicado em jornais.
Quem gostou da novela, pedimos que divulguem, espalhem por aí e se tiverem interesse em apoiar o trabalho do artista, fazer uma transferência bancaria, (como uma forma de comprar o folhetim) com qualquer valor (todo valor será repassado integralmente ao artista). As pessoas que colaborarem terão seu nome nos agradecimentos de cada capítulo (opcional. Se quiser seu nome, mandar e-mail pro [email protected] com seu nome), até o final da novela como uma singela homenagem.
Nossas sugestões são de 10 reais se você leu alguns poucos capítulos, 20 se você leu uma boa parte e pretende ler tudo, e 40 se você gostou muito desse projeto e quer que ele tenha vida longa.
Dados do artista: Marcelo da Silva Antunes
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Marcelo da Silva Antunes
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Marcelo da Silva Antunes nasceu em São Paulo, no dia 13 de junho de 1992, dia de Santo Antônio e de Exu. É Autor de VIVAVACA -2017, SP: Sem Patuá (editora Patuá) - 2018, Outros Cortes (Selo Borboleta Azul) -2019, Manifesto da hora que o couro come (Selo Borboleta Azul) -2020, e do livreto Velho, Velho Testamento - 2019. Editor do selo literário Borboleta Azul e da Revista Agagê80 (Brasil/Portugal) agitador cultural e oficineiro de escrita criativa.
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