São Paulo, xx de xx de 19xx
Sil,
Escrevo essa carta pra te atualizar sobre meu casamento, ele vai de mal a pior.
Luciana é insuportável, bagunça a casa toda e fica com discurso de que eu não ajudo em nada. Não está fácil, tenho preferido trabalhar de noite e ficar em casa de dia. No começo era por dinheiro, na madrugada é bandeira dois e tem bastante boate pra pegar e levar. A verdade é que prefiro trabalhar de noite pra sair de casa, não aguento mais ficar escutando choro de Luciana.
Ela inventou de querer se aproximar de minha mãe, quer fazer terapia de casal e agora esta lendo sobre budismo.
O sexo, você sabe, é ruim. Quando tem. Eu penso em você sempre que estou com ela.
Por que as mulheres mudam tanto depois do casamento? Você me entende né? Não é nada pessoal, é só a Luciana que me tira do sério.
Cheirei com Silvia o valor de um táxi, poderia quitar essa merda muito antes. Quando passei a morar sozinho os custos baixaram, o dinheiro do leite, no princípio vazio, foi remanejado pra gastar com Silvia. Fase horrível. Não que a vida seja melhor agora. Mas os vícios são anestésicos, isso ilude, a droga me fez ter vontade de trabalhar, trabalhar, trabalhar, o álcool me fez ter sonos profundos. Quase acreditei que a vida valeria a pena.
O meu movimento de taxista era de dentro pra fora, saía do centro e ia buscando as beiradas. Peguei muita história, bases filosóficas pra voltar pra vida de merda. Pessoas não prestam, a vida não presta. Escrever cartas nem é o pior de mim. De certa forma teve efeito parecido com as drogas e o álcool, nesses períodos pude acreditar ser existente.
No táxi, peguei passageiros desesperados, presenciei assaltos e até um assassinato. O corpo era puro sangue, fruto de uma briga de trânsito. Dois homens desceram da moto para assaltar um furgão, o cara desce com um pedaço de caibro e acerta na cabeça do primeiro, a arma cai no chão e o segundo corre. Depois de caído, tomou mais 7 pauladas. A cabeça parecia uma goiaba estourada. O linchamento foi completo, o outro, o fugitivo tomou chutes e socos de outros motoristas. Vida dura. Penso na mãe dele, será que tem?
Táxi é mesmo vida pra homem sem família. Cada perigo. É preciso antecipar as merdas e ser esperto.
No começo a concorrência era menor na madrugada. Os taxistas descobriram o mercado da noite, mais grana, mais mulheres e mais histórias. Ficou uma guerra por ponto, por mulheres e por portas de boates.
Caí fora, só buscava a Silvia. A cocaína e o álcool me deixaram sem vontade de foder, impotência assustaria qualquer um, eu nunca liguei, somos impotentes em outros sentidos, ficar de pau duro nunca foi uma questão pra mim. Será que meu pai teria orgulho de um filho brocha?
Rodava nas manhãs, levava senhoras e senhores a consultórios, fiz ponto em hospital, faculdade e teatro, hoje faço ponto no bairro, perdi o pique pra longas viagens, essas voltas de merda pelo bairro me bastam.
Agradecimento especial para Cax Nofre e Aline Macedo que colaboraram com esse folhetim até aqui. Muito obrigado.
Esse folhetim é um oferecimento Borboleta Azul, reavivando um formato muito popular no Brasil e no mundo. Ele tem como objetivo semear a leitura e despertar leitores, grandes nomes da literatura já escreveram folhetins como; Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar entre outros, o texto era publicado em jornais.
Quem gostou da novela, pedimos que divulguem, espalhem por aí e se tiverem interesse em apoiar o trabalho do artista, fazer uma transferência bancaria, (como uma forma de comprar o folhetim) com qualquer valor (todo valor será repassado integralmente ao artista). As pessoas que colaborarem terão seu nome nos agradecimentos de cada capítulo (opcional. Se quiser seu nome, mandar e-mail pro [email protected] com seu nome), até o final da novela como uma singela homenagem.
Nossas sugestões são de 10 reais se você leu alguns poucos capítulos, 20 se você leu uma boa parte e pretende ler tudo, e 40 se você gostou muito desse projeto e quer que ele tenha vida longa.
Dados do artista: Marcelo da Silva Antunes
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Marcelo da Silva Antunes
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Marcelo da Silva Antunes nasceu em São Paulo, no dia 13 de junho de 1992, dia de Santo Antônio e de Exu. É Autor de VIVAVACA -2017, SP: Sem Patuá (editora Patuá) - 2018, Outros Cortes (Selo Borboleta Azul) -2019, Manifesto da hora que o couro come (Selo Borboleta Azul) -2020, e do livreto Velho, Velho Testamento - 2019. Editor do selo literário Borboleta Azul e da Revista Agagê80 (Brasil/Portugal) agitador cultural e oficineiro de escrita criativa.
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