São Paulo XX de XX de 19XX.
Vó,
Estou com saudades, passei na sua casa esses dias, o vô disse que a senhora foi visitar o seu irmão em Guarulhos. Escrevo essa carta para complementar o bilhete que deixei na mesa. Ele se esquece de avisar quando eu ligo.
Vida de casado é difícil, bem que a senhora avisava. Luciana tem muitas manias, gosta de uma bagunça, eu trabalho meio período e sou obrigado a conviver com as coisas dela espalhadas pela casa toda. Não adianta arrumar, no outro dia já está uma zona. Pra cozinhar é péssima, eu que tô me arriscando a fazer comida, pelo menos o que me ensinou. Macarrão com molho, arroz, feijão e bife frito.
Ela ainda é mal-agradecida, não reconhece nada que faço. Igual seu marido. Agora sei o que a senhora sofre.
Faz tempo que não falo com minha mãe, sabe alguma coisa dela?
Beijo, vó, venha em casa um dia.
De seu querido Neto, Jonas
Minha vó também era das cartas, mandava pra minha mãe, que passou essa coisa pra mim. Mas no caso delas, gostavam de ler livros e revistas, eu nunca gostei de nada disso.
Essa seria a última carta que mandaria endereçada pra Vó. Foi a única que encontrei aqui na caixa com o nome dela até agora. Pra ela eu enviei algumas. Mandava nos aniversários, natal, dias santos, ela sempre respondia. Vó sabia a data de aniversário da família toda.
Era chamada de Vó pela rua toda, uma pessoa amável, viveu em estado inerte de tranquilidade, do tipo que deixava a maré levar. A pessoa responsável por não ter me tornado uma pessoa violenta e por segurar minha vida, sem Vó teria pirado ainda menino. Não me lembro de dizer eu te amo tantas vezes, nem sei se isso credita alguma coisa. As mulheres gostam de ouvir, devia ter dito, Vó dizia tanta coisa pra me fazer melhor. Comprava chocolates e colocava na minha mochila, escondia minhas revistinhas. Vó sempre me abraçava depois das gritarias.
Nessa carta, previa o final de meu casamento, fracassado desde a cerimônia, e preocupação com minha mãe. Que seguia a tradição de sumir em alguns períodos do ano. Em um de seus sumiços apareceu grávida do meu irmão. Meu irmão seguiu os passos de minha mãe, some com frequência.
Devia ter dado atenção a Vó. Não me lembro de seu choro, só seu riso, me lembro também de suas dores, aquilo ainda dói em mim. Nada fiz, nada pude fazer.
Marcelo da Silva Antunes nasceu em São Paulo, no dia 13 de junho de 1992, dia de Santo Antônio e de Exu. É Autor de VIVAVACA -2017, SP: Sem Patuá (editora Patuá) - 2018, Outros Cortes (Selo Borboleta Azul) -2019, Manifesto da hora que o couro come (Selo Borboleta Azul) -2020, e do livreto Velho, Velho Testamento - 2019. Editor do selo literário Borboleta Azul e da Revista Agagê80 (Brasil/Portugal) agitador cultural e oficineiro de escrita criativa.
Esse folhetim é um oferecimento Borboleta Azul, reavivando um formato muito popular no Brasil e no mundo. Ele tem como objetivo semear a leitura e despertar leitores, grandes nomes da literatura já escreveram folhetins como; Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar entre outros, o texto era publicado em jornais.
Quem gostou da novela, pedimos que divulguem, espalhem por aí e se tiverem interesse em apoiar o trabalho do artista, fazer uma transferência bancaria, (como uma forma de comprar o folhetim) com qualquer valor (todo valor será repassado integralmente ao artista). As pessoas que colaborarem terão seu nome nos agradecimentos de cada capítulo (opcional. Se quiser seu nome, mandar e-mail pro [email protected] com seu nome), até o final da novela como uma singela homenagem.
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