São Paulo xx de xx de 19XX
Lu,
Recebi sua carta, não tive tempo de escrever esses dias. Estou bem. Também sinto sua falta.
Não se esqueça de mim nesses dias, preciso dessa grana e desse trabalho. Meu pai me indicou pra essa vaga.
Minha mãe também não gostou que eu viesse trabalhar tão longe. Santos nem é longe, vou ficar por aqui só um mês. Bico de segurança pras festas de final de ano.
No carnaval vou ter uma grana, a gente pode ir pular junto, se quiser.
Aquele emprego foi uma merda. Aquele carnaval fiquei duro, quando pagaram foi menos do que deveriam, meu pai prometeu dar um jeito. O jeito dele.
Essa culpa acompanha os pais por um tempo, depois vai acabando, a não ser no caso de pais muito vaidosos, que querem viver a vida de seus filhos, colocar neles todas as suas frustrações em nome do “quero dar o que eu não tive”, não sofri com isso.
A falta me ensinou a ser homem, ter postura e arrumar um emprego. Consegui pagar minhas contas por algum tempo, fui homem pra eles.
Luciana era apaixonada por mim, pulamos o carnaval assistindo televisão no meu quarto. Jovens e cheios de hormônios, os bloquinhos não fizeram falta. Luciana não ligou pras minhas crises e falta de emprego, era homem, fui o homem de sua vida por tempos.
Fui o primeiro homem de Luciana, ela minha primeira mulher. Perdemos a virgindade e a inocência juntos. Por um tempo esse laço foi forte. No fim não valeu nada, qualquer relação está fadada ao fracasso com um pouco de convívio. Leve seu amor pra conviver e verás. A vida conjugal é um inferno.
Casar até que tem suas vantagens, traz um status social, fica mais valoroso, mais respeitado, mais macho. Não entendo o motivo. Gostei de ser marido. É uma confirmação de ser homem. O tratamento nas festas de família muda, meu pai deve ter ficado feliz quando soube que seu filho era homem. Que possuía uma mulher.
Talvez eu esteja pior hoje. Certamente estou pior. Talvez a gente sempre piore, mas não sou saudosista. Não tive vitórias, tive ilusões, alguns momentos de glória, casar, sair de casa, banalidades que são vendidas como sonhos, nunca entendi isso, ter uma casa não pode ser um sonho, ter um emprego muito menos, qualquer pai de família é alçado a super-herói. Será essa a representação de Deus na terra? Um homem que paga suas contas, tem mulher e filho. É isso ser homem? É ser Pai?
Nunca mais voltei pra Santos. Cidade de merda. Teve seus encantos, pelo menos pra mim. Fui lá pela primeira vez na barriga de minha mãe, o Outro lá, assim que me acostumei a chamar meu pai, gostava, dizia ser a cidade do time do Pelé. Grande merda. Meus avós maternos me levavam nas férias escolares. Luciana e eu tivemos bons momentos na cidade, alguns primeiro de ano. Hoje é uma água barrenta, gente hipócrita e moralista, trabalhar lá foi bom pra acabar com a ilusão de lugar melhor ou pior, uma grande balela, cidades do interior e praianas conseguem ser tão filhas da puta quanto a capital.
Viajar é levar merdas pra outro lugar. Relaxar é outra coisa. Impossível pra quem escreve todas essas merdas de cartas.
Marcelo da Silva Antunes nasceu em São Paulo, no dia 13 de junho de 1992, dia de Santo Antônio e de Exu. É Autor de VIVAVACA -2017, SP: Sem Patuá (editora Patuá) - 2018, Outros Cortes (Selo Borboleta Azul) -2019, Manifesto da hora que o couro come (Selo Borboleta Azul) -2020, e do livreto Velho, Velho Testamento - 2019. Editor do selo literário Borboleta Azul e da Revista Agagê80 (Brasil/Portugal) agitador cultural e oficineiro de escrita criativa.
Esse folhetim é um oferecimento Borboleta Azul, reavivando um formato muito popular no Brasil e no mundo. Ele tem como objetivo semear a leitura e despertar leitores, grandes nomes da literatura já escreveram folhetins como; Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar entre outros, o texto era publicado em jornais.
Quem gostou da novela, pedimos que divulguem, espalhem por aí e se tiverem interesse em apoiar o trabalho do artista, fazer uma transferência bancaria, (como uma forma de comprar o folhetim) com qualquer valor (todo valor será repassado integralmente ao artista). As pessoas que colaborarem terão seu nome nos agradecimentos de cada capítulo (opcional. Se quiser seu nome, mandar e-mail pro [email protected] com seu nome), até o final da novela como uma singela homenagem.
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Dados do artista: Marcelo da Silva Antunes
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