Devia ter parado com as cartas aos quinze anos, quando tomei um tapa na cara do meu vô. Nunca escrevi uma carta e enderecei pra ele. Homem medieval, batia nas mulheres de sua casa e tinha hábitos horríveis. Teve uma criação fodida. Nada que justificasse aquela brutalidade. Jogava pratos na parede como quem bate a porta da geladeira.
Era cego de uma vista, fruto de uma cintada do seu pai na infância. Homem esse que ele venerava, dizia ter sido o responsável por ele ter se tornado um homem de verdade.
Quando minha mãe engravidou, ele se fez de compreensivo, depois sugeriu aborto, ofereceu dinheiro pro meu pai sumir no mundo. Isso é a parte que sei. Ela não fez o jogo dele. Orgulhoso, sentia vergonha de ter uma filha grávida de um malandro, como ele julgava qualquer um que não fosse policial ou tivesse emprego fixo. Ele abominava jogo, sinuca então.
Odeio futebol por conta dele. Na infância fui obrigado a assistir aqueles programas ridículos de esporte que passam todo dia de manhã até de noite.
Ele teve revólver em casa durante um bom tempo. Deu fim na arma por ter matado um cara, reza a lenda. Ele chegou cheio de sangue em casa. Ninguém disse nada, por qualquer palavra ele era capaz de distribuir socos e quebrar coisas. O silêncio da casa era divino, por motivos terríveis.
O rádio dele era figura imponente. Ai de quem ousasse falar durante seus programas.
Quando saí de lá pela primeira vez, ele ainda era vivo. Morreu pouco depois da minha vó. Deixou a casa e o carro no meu nome. Pro meu irmão não deixou nada. Nunca o reconheceu como seu neto. Disse que eu era seu único neto, que não tinha neto preto.
No seu funeral, tinha muita gente, mais flores do que no da Vó. Na rua era um doce. A vizinhança o amava. Foi até técnico do time do bairro, o Pitangueira.
Agradecimento especial para Cax Nofre e Aline Macedo que colaboraram com esse folhetim até aqui. Muito obrigado.
Marcelo da Silva Antunes nasceu em São Paulo, no dia 13 de junho de 1992, dia de Santo Antônio e de Exu. É Autor de VIVAVACA -2017, SP: Sem Patuá (editora Patuá) - 2018, Outros Cortes (Selo Borboleta Azul) -2019, Manifesto da hora que o couro come (Selo Borboleta Azul) -2020, e do livreto Velho, Velho Testamento - 2019. Editor do selo literário Borboleta Azul e da Revista Agagê80 (Brasil/Portugal) agitador cultural e oficineiro de escrita criativa.
Esse folhetim é um oferecimento Borboleta Azul, reavivando um formato muito popular no Brasil e no mundo. Ele tem como objetivo semear a leitura e despertar leitores, grandes nomes da literatura já escreveram folhetins como; Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar entre outros, o texto era publicado em jornais.
Quem gostou da novela, pedimos que divulguem, espalhem por aí e se tiverem interesse em apoiar o trabalho do artista, fazer uma transferência bancaria, (como uma forma de comprar o folhetim) com qualquer valor (todo valor será repassado integralmente ao artista). As pessoas que colaborarem terão seu nome nos agradecimentos de cada capítulo (opcional. Se quiser seu nome, mandar e-mail pro [email protected] com seu nome), até o final da novela como uma singela homenagem.
Nossas sugestões são de 10 reais se você leu alguns poucos capítulos, 20 se você leu uma boa parte e pretende ler tudo, e 40 se você gostou muito desse projeto e quer que ele tenha vida longa.
Dados do artista: Marcelo da Silva Antunes
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