São Paulo, xx, de xx de 19xx
Sil,
Preciso desabafar com alguém, não está sendo fácil administrar minha vida. Trabalho o dia todo na praça, de noite estou tirando a carteira de motorista D, chego em casa e a Luciana fica perturbando com as baboseiras dela, não aguento mais, quero me separar, mas não tenho pra onde ir. Ela paga as contas e tá me ajudando com o curso.
Eu gosto mesmo é de foder com você, naquele quartinho de sempre. Luciana não me dá mais tesão, quando meto nela penso em você.
Essa carta não terminei. Silvia foi a mulher mais bonita que conheci. Era uma prostituta gorda que me dava de graça em motéis baratos no centro. Conheci essa mulher em uma corrida, logo no começo do táxi. Pegava ela e as amigas, levava do centro até uma casa em Pinheiros. Fiz isso umas vezes. Fiz isso umas três vezes. Um dia fui no puteiro delas e paguei uma bebida pra Silvia.
Pagar pra transar sempre achei estranho. Nunca fiz isso. Só tive duas mulheres. O sexo nunca foi uma questão na minha vida.
Silvia era mais velha do que eu. A mais velha do puteiro. Tinha seios fartos e uma bunda grande. Faltavam-lhe alguns dentes, sofria com sua autoestima, não me importo com isso. Bebíamos sempre. Ela me escutava e depois eu metia nela, era uma troca justa.
Pensei em morar com Silvia, ela tinha um apartamento na rua Augusta, morava sozinha e precisava de alguém pra dividir o aluguel. Silvia tinha clientes diversificados, dos meninos que só queriam foder e sair, aos mais carentes, que pediam atenção e dedos no cu. Ela se divertia.
Prostitutas são profissionais importantes, muito mais que psicólogos e psiquiatras, ali o sigilo é garantido, te tratam com carinho e podem te tratar como filho, te elogiam e não cobram nada. Nada além do combinado.
Não me lembro de como parou nessa vida, sei que me parecia bastante experiente, cheirava cocaína e bebia uísque. Gostos que compartilhávamos. Eu apresentei o uísque e ela a cocaína.
Experimentar drogas foi libertador, no começo fui feliz, Silvia sabia tratar um homem, me sentia mais macho com ela, tinha dinheiro, uma amante, usava droga e trabalhava na madrugada, meu pai sentiria orgulho.
Parei com a cocaína quando parei com Silvia. Ela parou comigo. Não aguentou minhas cartas melancólicas.
Agradecimento especial para Cax Nofre e Aline Macedo que colaboraram com esse folhetim até aqui. Muito obrigado.
Marcelo da Silva Antunes nasceu em São Paulo, no dia 13 de junho de 1992, dia de Santo Antônio e de Exu. É Autor de VIVAVACA -2017, SP: Sem Patuá (editora Patuá) - 2018, Outros Cortes (Selo Borboleta Azul) -2019, Manifesto da hora que o couro come (Selo Borboleta Azul) -2020, e do livreto Velho, Velho Testamento - 2019. Editor do selo literário Borboleta Azul e da Revista Agagê80 (Brasil/Portugal) agitador cultural e oficineiro de escrita criativa.
Esse folhetim é um oferecimento Borboleta Azul, reavivando um formato muito popular no Brasil e no mundo. Ele tem como objetivo semear a leitura e despertar leitores, grandes nomes da literatura já escreveram folhetins como; Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar entre outros, o texto era publicado em jornais.
Quem gostou da novela, pedimos que divulguem, espalhem por aí e se tiverem interesse em apoiar o trabalho do artista, fazer uma transferência bancaria, (como uma forma de comprar o folhetim) com qualquer valor (todo valor será repassado integralmente ao artista). As pessoas que colaborarem terão seu nome nos agradecimentos de cada capítulo (opcional. Se quiser seu nome, mandar e-mail pro [email protected] com seu nome), até o final da novela como uma singela homenagem.
Nossas sugestões são de 10 reais se você leu alguns poucos capítulos, 20 se você leu uma boa parte e pretende ler tudo, e 40 se você gostou muito desse projeto e quer que ele tenha vida longa.
Dados do artista: Marcelo da Silva Antunes
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Marcelo da Silva Antunes
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