Circo
Fomos em família de três.
Quando a caixa de som estrilou, a senhora em traje de maiô ordinário entrou no picadeiro e o canhão de luz iluminou uma corda esfiapada que caiu do vazio.
A senhora enrolou-se e ficou esfregando os intervalos na corda. As pernas nuas delivraram loucas pelancas num balé aéreo que deixou o meu pai engarrafado.
Levantei, fui até a bilheteira, perguntei se ali tinha banheiro.
– Não tem. Se for mijar ou vomitar, vai atrás do trailer.
Gozei na roda e limpei a mão na cueca.
Música tensa – anunciavam a vez do arremessador de facas. Silêncio debaixo da lona mambembe.
– Alguém aí tem coragem de deitar na tábua inclinada?
No berro, ele oferecia – Aqui, a menina – põe ela na tábua.
Eles atravessaram o camarote debaixo de aplausos e assovios.
Sentei a tempo de ver o voo da lâmina cortar um chumaço das suas trancinhas.
Leonardo Paiva nasceu em 1989 nas Minas Gerais. “Circo” compõe a plaquete inédita Saco de gatinhos.
Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com os nossos Termos de Uso e Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você declara estar ciente dessas condições.